BÁTEGA /2026

Dossier de apresentação • CML RAAML 2025

SINOPSE

BÁTEGA é um espetáculo de teatro apresentado no mar. Explora a relação ancestral entre o oceano e a nossa melancolia, individual e coletiva, amplamente associada à cor azul. Em cena, personificação da humanidade inteira e triste, uma companhia de palhaços tenta uma vida normal.

BÁTEGA pertence à Trilogia Azul, uma série de espetáculos com o mar, o céu e o horizonte como ponto de partida. Será, por um lado, um jogo com a impossibilidade de se construir um espetáculo no oceano e, por outro, um tratado da cegueira humana perante o dilúvio.

Estreia em Maio de 2026, num percurso que começa em Lisboa e termina na Praia da Fonte da Telha.

Uma criação de Sílvio Vieira, em colaboração com Daniela Leitão e Rafael dos Santos.
Uma produção outro Associação Cultural.

RESUMO DO APOIO SOLICITADO À CML / RAAML

Financeiro

— Criação do espetáculo BÁTEGA
— Edição de livro que reúne materiais multi-formato dos espetáculos BÁTEGA (2026), ZÉNITE (2024), EQUADOR (2023) e ARENA (2021)

Não financeiro
2 autocarros para transporte coletivo de público desde Lisboa.

EQUIPA

Espetáculo

direção artística e de projeto Sílvio Vieira
direção de produção Daniela Leitão
cenografia e desenho de capa Rafael dos Santos
interpretação Anabela Ribeiro, Catarina Rabaça, Gaya de Medeiros, Inês Campos, Tadeu Faustino e dois intérpretes a definir em audição
figurinos Marine Sigaut
maquilhagem e cabelos Sara Marques de Oliveira
desenho de som a definir em Open Call

plano de segurança Eng. Fernando Rodrigues
nadadora-salvadora Mariana do Ó

teasers promocionais Carlos Conceição
registo vídeo António Mendes
fotografia de cena Bruno Simão
assessoria de imprensa Raquel Guimarães

Edição de livro

coordenação Sílvio Vieira
textos Daniela Leitão
ilustrações Rafael dos Santos
design gráfico e paginação Open Call a decorrer à data da presente candidatura

PARCEIROS E APOIOS

coprodução M.A.R. Mostra de Artes de Rua de Sines / Teatro do Mar
residência artística Cineteatro Louletano

Direção Geral das Artes | República Portuguesa | Ministério da Cultura
Fundação GDA

protocolo social Ser+ Associação Portuguesa de Prevenção e Desafio à Sida
acessibilidade Access Lab
previsão meteorológica IBERMETEO
apoio à pós-produção de vídeo Mirabilis
armazém
Câmara Municipal de Lisboa
espaço de ensaios Polo Cultural Gaivotas | Boavista
atelier de cenografia Fosso de Orquestra
apoio concessão da Praia Fonte da Telha ÂNCORA
apoio à comunicação Coffeepaste

CALENDÁRIO RESUMIDO

2025

Outubro a Dezembro
— Residências artísticas de curta duração com a equipa artística, no Polo Cultural Gaivotas | Boavista
— Audição para 2 intérpretes do espetáculo

2026

Março e Abril
Residência artística em Loulé (Cineteatro Louletano)
— Elaboração do plano de segurança e licenciamento do recinto
— Ensaios em Lisboa e na Praia da Fonte da Telha

Maio
Estreia e temporada de BÁTEGA (15 apresentações), lotação máxima prevista de 120 lugares.

Junho e Julho
Edição do livro (ainda sem título), que reúne materiais dos espetáculos da Trilogia ARENA-EQUADOR-ZÉNITE, e a sua relação com BÁTEGA enquanto expoente máximo da construção de espetáculos em espaços não convencionais

Setembro
— Apresentação de BÁTEGA na M.A.R. Mostra de Artes de Rua de Sines

Outubro
— Lançamento do livro-arquivo
— Apresentação pública do vídeo de espetáculo

Rafael dos Santos, Onda 1, pastel seco, lápis de cor e incisões sobre papel de arroz, 21 x 29,7 cm, 2025

O ESPETÁCULO

Entre 2021 e 2024 desenvolvemos uma trilogia de espetáculos — ARENA, EQUADOR e ZÉNITE — que tiveram Lisboa como lugar de origem, de ensaio, de apresentação ou de acolhimento. ARENA e EQUADOR foram, inclusive, apoiados financeiramente pela Câmara de Lisboa. Cada uma destas criações procurou, à sua maneira, interrogar a relação entre o teatro e o espaço, entre experiência estética e a ausência de lugar. A cidade, nesses anos, foi chão e teto, palco e bastidor — e foi, por isso também, autora silenciosa destes três objetos.

Para esta candidatura, faz sentido salientar, primeiramente, dois elementos do projeto anterior, ZÉNITE (2024, coprodução com o Teatro Nacional D. Maria II) que ficam para a posteridade e que são estruturantes para o BÁTEGA:

  1. O Teatro Zénite, uma plateia móvel de 35 blocos de cimento construída no âmbito de ZÉNITE (2024), a partir do entulho das obras do TNDMII, e que iremos deslocar até à costa atlântica em 2025, parcial ou totalmente, para a realização de BÁTEGA. Não deixa de ser simbólica a ideia de trazer às costas um Teatro de cimento.

  2. O questionário "perguntas para o teatro mais inexperiente do mundo", ao qual responderam mais de 300 pessoas de todo o território nacional, com hábitos culturais e desejos para um teatro do futuro, e cujo tratamento informa e legitima alguns dos aspetos mais relevantes desta candidatura.

Foi a partir destes elementos, e seguindo a linha orientadora da atividade da estrutura, que surgiu BÁTEGA, um espetáculo que tem o oceano como palco (literal) da ação teatral.

BÁTEGA será, por um lado, um jogo com a dificuldade de se construir um espetáculo no oceano e, por outro, um tratado da cegueira humana perante o dilúvio. Concretamente, juntando à dificuldade prevista de fazer um espetáculo no mar a sua ligação com a tristeza e a melancolia, interessa-nos referenciar a linguagem do circo e do teatro mudo, trazendo ao espetáculo o vocabulário do absurdo. A criação assentará na construção de uma série de quadros sobre "impossibilidades" distintas, em articulação com questões contemporâneas e utopias que lhes sirvam de base: construir uma ilha como país; uma casa para morar; ou tentar viver uma vida normal numa zona de rebentação. Propomo-nos ainda trabalhar, à semelhança dos projetos anteriores, o equilíbrio entre a abstração — assente na imagem (plástica, cenográfica) e no corpo (em movimento e interação com o espaço e com o outro) — e a narrativa concreta.

É impossível separar a criação dos nossos espetáculos da produção criativa que os sustenta. Criar para o exterior, aprendemos, é encorajar a transformação que o espaço traz a todos os domínios do fazer teatral. Não pretendemos trazer o interior de um teatro para o exterior. Devemos, antes, e como escreve Jazmín Beirak, “tirar a cultura dos seus lugares habituais”. Escolhemos projetos experimentais e diferenciadores, por acreditarmos que abrem espaço à investigação e inovação para um outro teatro.

Na prática, propomos que o espetáculo se inicie ainda em Lisboa, no autocarro que levará o público até à Praia da Fonte da Telha. Dois intérpretes acompanharão a viagem, ativando esse percurso como limiar e prólogo. Lisboa, aqui, não é apenas origem logística — é corpo dramatúrgico. Este gesto reforça a ligação do projeto à cidade, envolvendo diretamente os seus munícipes e expandindo os limites do palco natural ao território urbano, ao mesmo tempo que dá continuidade à relação com o público que temos vindo a construir em Lisboa, espetáculo após espetáculo. Um exemplo deste crescimento é o espetáculo ZÉNITE (2024, coprodução com o TNDMII) que, embora tenha sido apresentado nas margens do Rio Trancão, em Loures, esgotou toda a carreira no dia da sua estreia sobretudo devido ao público lisboeta.

O LIVRO

Numa lógica de continuidade do apoio da Câmara Municipal de Lisboa ao nosso percurso artístico, propomos a edição de um livro que reúna os materiais mais significativos da trilogia ARENA-EQUADOR-ZÉNITE e que, ao mesmo tempo, trace a ponte com o seu sucessor — BÁTEGA, espetáculo inaugural da Trilogia Azul. Esta publicação, ainda sem título, será coordenada por Sílvio Vieira e reunirá, entre outros elementos:

  1. Registos audiovisuais dos espetáculos, com realização de António Mendes (ARENA, ZÉNITE e BÁTEGA) e Carlos Conceição (EQUADOR)

  2. Guerra das Paisagens”, documentário do projeto ZÉNITE, com realização e montagem de Sílvio Vieira

  3. Relatório de análise dos dados do questionário ZÉNITE, com respostas de mais de 300 pessoas de todo o país

  4. Guiões dos quatro espetáculos e outros textos de suporte

  5. Fotografias de Leonor Fonseca, Bruno Simão, Filipe Ferreira, João Cachola

  6. Desenhos de Rafael dos Santos

Este livro não é apenas um compêndio, mas um gesto de continuidade. Um espaço impresso que prolonga a vida de espetáculos únicos no panorama artístico nacional, partilhando com outros artistas, estudantes, programadores e cidadãos uma metodologia de trabalho e uma visão sobre o que pode ser teatro na contemporaneidade. Ao mesmo tempo, é uma devolução à cidade: um documento que fixa, em papel, o percurso de uma estrutura que tem vindo a trabalhar com, para e a partir de Lisboa — os seus espaços não convencionais, as suas comunidades, o seu público em crescimento.

Acreditamos que esta edição poderá integrar bibliotecas municipais, escolas, centros culturais e universidades da cidade, reforçando o compromisso da estrutura com a acessibilidade e a partilha do conhecimento artístico.

Coordenada por Sílvio Vieira, com textos de suporte de Daniela Leitão e ilustrações de Rafael dos Santos.

ACESSIBILIDADE

A estratégia de acessibilidade física e intelectual será elaborada em parceria com a Access Lab, empresa líder e de referência no setor da acessibilidade na cultura. Em sede de orçamento, dedicámos uma verba para o conjunto de medidas resultantes desta parceria, a definir no arranque do projeto.

BÁTEGA prevê ainda as seguintes práticas de acessibilidade:

  1. Através do protocolo com a Ser+, atividades de mediação e formação para utentes com deficiência ou em condição de sem abrigo

  2. Preços diferenciados, através de desconto sobre o valor inteiro para jovens até aos 25 anos, séniores com mais de 65 anos, pessoas em situação de desemprego, pessoas com deficiência e profissionais do espetáculo

  3. À semelhança de todos os projetos da estrutura, abertura de Audições para intérpretes de qualquer idade, etnia, género, religião, condição social, intérpretes com deficiência

  4. Média-metragem documental (legendagem PT/EN)

  5. Disponibilização gratuita do registo de espetáculo (legendagem PT/EN)

CAPTAÇÃO DE PÚBLICOS

Prevemos que o público-alvo das apresentações seja maioritariamente jovem (20-40 anos), operantes ou a estudar nas áreas das artes e ciências sociais, com nível de escolaridade médio-superior, e residente na Grande Lisboa.

  1. Atividades em Lisboa, Cascais, Almada (P. Setúbal), Sines (Alentejo) e Loulé (Algarve), em estreita articulação com os negócios, entidades e comunidades locais

  2. Articulação com as iniciativas de mediação das associações e entidades públicas e privadas parceiras do projeto: atividade participativa com os utentes da Ser+, através da realização de formação semanal, colaboração na confeção de pequenos adereços e visitas ao local; e o contacto com comunidades piscatórias e outras relacionadas com o mar na residência em Loulé e na M.A.R

  3. Convite aos participantes de todas as atividades para ensaio geral e conversa com a equipa artística

  4. Materiais impressos de design sustentável e colecionável

  5. Divulgação personalizada através de newsletter e redes sociais direcionada ao público fidelizado dos projetos anteriores

  6. Publicidade e ativação de todos os meios/suportes de divulgação próprios e de parceiros

  7. Difusão do registo audiovisual e do filme documental, uma vez finalizados

OBJETIVOS DE INTERESSE PÚBLICLO

Acreditamos na elevada pertinência do projeto pelo seu potencial inovador, pela ligação que estabelece com o momento atual e pelo contributo que oferece à cidade de Lisboa enquanto lugar de criação, de pensamento e de encontro entre artistas e cidadãos.

Do questionário feito no âmbito de ZÉNITE, a partir de uma amostra de 300 participantes de todo o território nacional, retirámos três valiosas conclusões que sustentam o projeto BÁTEGA e o ligam de forma clara às linhas programáticas do Município:

A maioria dos participantes:

  1. Destaca a importância de um teatro experimental, inovador, sustentável e acessível.
    BÁTEGA propõe transformar o mar em palco — uma operação simbólica e logística que é, desde logo, um gesto de experimentação. A acessibilidade será garantida pela parceria com a Access Lab, estendendo-se à comunicação, mobilidade e receção do público. O espetáculo será realizado com luz diurna, sem recurso direto à rede de energia.

  2. Considera que o teatro não deve ser apenas um recinto para espetáculos, mas um espaço vivo dentro da comunidade.
    Partindo de Lisboa — com início da ação no autocarro que transporta o público até à praia — o espetáculo envolve diretamente os seus munícipes e comunidades locais, promovendo uma dramaturgia expandida do território urbano até à linha de costa. Esta relação com a cidade é reforçada por ensaios, residências e parcerias em espaços culturais do Município.

  3. Vê no teatro um lugar de reflexão e transformação social, mais do que de entretenimento.
    BÁTEGA propõe uma fábula sobre o colapso e a resistência: em cena, um grupo de palhaços tenta viver uma vida normal numa zona de rebentação. Um gesto frágil, absurdo e político. Acreditamos que o teatro pode ser um espelho onde se veem tanto as falhas como as esperanças do nosso tempo.

A natureza do projeto exige uma profunda reconfiguração dos modos de produção. As limitações acústicas e técnicas da praia, por exemplo, afastam a criação do teatro falado e encaminham-na para o teatro visual e físico. A cenografia será pensada entre a escala do maior palco do mundo — o mar — e a portabilidade necessária para o espetáculo poder circular. Esta abordagem, sustentada pela investigação prática de três criações anteriores em Lisboa, garante solidez artística e coerência com os objetivos estratégicos da cidade: dinamização cultural, descentralização, acessibilidade e inovação.

O livro-compêndio que se encontra em desenvolvimento — e cuja edição propomos ver apoiada nesta candidatura — permitirá fixar em formato impresso esta experiência naturalmente efémera. A publicação incluirá materiais de ARENA, EQUADOR e ZÉNITE, bem como conteúdos inéditos de BÁTEGA, contribuindo para a valorização da criação artística local e para a construção de memória crítica da cidade enquanto espaço de experimentação cultural. Prevê-se a sua distribuição em bibliotecas, escolas e equipamentos culturais do Município.

As características que fazem de BÁTEGA um projeto singular — nomeadamente a sua dimensão site-specific, o seu risco artístico e o seu compromisso com a cidade — produzirão resultados que inevitavelmente se transportarão para outros contextos e práticas. Acreditamos que Lisboa deve não só ser o ponto de partida, mas também o lugar onde estas experiências se fixam, se discutem e se partilham.